Ganho líquido da empresa, que levantou R$ 354,9 milhões com o Certificado de Recebíveis do Agronegócio, foi de R$ 90,2 milhões no terceiro trimestre
Por Rikardy Tooge e Rafael Walendorff, Valor — São Paulo e Brasília
A Caramuru Alimentos, maior processadora de soja convencional do país, reportou hoje (12/11) que fechou o terceiro trimestre com lucro líquido de R$ 90,2 milhões, um aumento de 412,5% em relação ao mesmo intervalo de 2020, quando o ganho foi de R$ 17,6 milhões. No anúncio dos resultados, a empresa revelou também que concluiu a emissão de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) “verde” de R$ 354,9 milhões.
A receita líquida no trimestre aumentou 25,6%, para R$ 2,27 bilhões. No acumulado de janeiro a setembro, o lucro líquido cresceu 224,4%, a R$ 287 milhões, e a receita líquida subiu 20,9% para R$ 5,52 bilhões.
“O resultado é reflexo do excelente desempenho apresentado nos preços elevados do biodiesel e do farelo de soja, além da forte valorização nos preços da soja e seus derivados no mercado internacional e depreciação do real frente ao dólar”, disse a companhia, em relatório.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado foi de R$ 426 milhões, 57,8% superior aos R$ 270 milhões do ano passado. A margem aumentou 30,4%, para 7,71%.
A empresa também reportou diminuição de sua alavancagem, que passou de 5,5 vezes o Ebitda ajustado para 3,4 vezes. Até setembro, o endividamento líquido da companhia estava em R$ 1,94 bilhão.
A originação de grãos (soja, milho e girassol) alcançou 2,45 milhões de toneladas nos primeiros nove meses do ano, uma queda de 12,5% em relação ao mesmo intervalo de 2020. A queda, afirma a Caramuru, foi decorrente da pandemia.
“Além do atraso no início da colheita da soja, houve quebra na safrinha de milho nas regiões de atuação da Caramuru, mas que não afetou nosso processamento, uma vez que prestamos também serviços de recebimento e armazenagem”, acrescentou.
CRA “verde” financiará compra de soja
Com os R$ 354,9 milhões que levantou na emissão do CRA verde, a Caramuru vai financiar a compra de soja para produção de biodiesel e demais atividades da empresa. A operação, lastreada em debêntures da companhia, teve demanda superior à oferta, segundo a Caramuru – a emissão foi originalmente desenhada para levantar R$ 300 milhões.
Cerca de 98% do título foi distribuído para investidores pessoas físicas, mais de 2,8 mil. A Caramuru obteve registro de companhia aberta durante a realização da oferta.
O escritório Santos Neto Advogados Associados assessorou os coordenadores da emissão, o banco BTG Pactual e a corretora UBS. Segundo Matheus Zilioti e Domício Santos Neto, sócios do escritório, o CRA pode ser visto como um teste para os investidores e pode pavimentar o caminho para uma provável oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), que estaria no radar da companhia.
“Houve bastante demanda. A obtenção do registro de companhia aberta permitiu abrir a oferta para o varejo”, disse Santos Neto. No ano passado, a Caramuru também havia lançado um CRA 400, mas com público mais limitado.
O prazo da operação é de aproximadamente seis anos e a remuneração é de IPCA + 5,7%. A emissora foi a Eco Securitizadora, do grupo Ecoagro. A liquidação ocorreu no fim de outubro.
O CRA foi caracterizado como “verde” com base na emissão do parecer independente confirmando que está alinhado com “os Green Bonds Principles, com base nos benefícios ambientais e climáticos gerados pela compra de soja para produção de biodiesel, fomento à produção agrícola sustentável, processamento primário e armazenamento e contratação de serviços logísticos com baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE) pela Caramuru”, disse Matheus Zilioti.